A proposta de fazermos esta tournée partiu do Mário e da Sula. Parecia uma coisa de maluco. Se embrenhar pelo Brasil afora (ou adentro!) tocando um programa de música clássica... ahem... contemporânea... ahem ahem....brasileira (gulp!)? E para tornar a proposta só um tiquinho mais maluca, decidimos fazer uma mistura de instrumentos totalmente inusitada: flauta transversal e doce, cravo, viola da gamba e voz. Só um doido para achar que isso ia dar certo. Mas como a gente bem sabe, um doido faz cem. A idéia foi tomando corpo, e o Wagner, do SESC, achou muito natural. Até recomendou: "nada de concessões, hein? Não quero Pixinguinha, Tom Jobim, nada disso." Nada contra os dois gênios citados, muito antes pelo contrário. São ambos maravilhosos. Mas a idéia era mesmo fazer o que ninguém faz, e que não é necessariamente "fácil" de entrar nos ouvidos. Um desafio e tanto.
A escolha de peças foi difícil e demorada. Optamos por incluir alguns nomes já inseridos na história da música - Guerra-Peixe, Bruno Kiefer, Osvaldo Lacerda, Ronaldo Miranda - e outros ainda jovens - Sergio Roberto de Oliveira, Patrícia Michelini, Andre Vidal, Marcus Ferrer. Algumas peças são mais longas, outras bem curtinhas. Começamos com um canto tradicional do Nordeste, arranjado com espírito por André Vidal, jovem cantor que tem alcançado sucesso na carreira, como tenor. Ao Sergio e ao Marcus, encomendamos suas respectivas peças. Marcus escreveu uma miniatura sobre um poema de Manoel de Barros. Curta, leve, engraçada, ganha muito com a narração teatral do Mário e do Helder. Já o Sergio enveredou por um caminho surpreendente. A peça dele, Dores, é a mais complexa do programa. Trata dos diversos tipos de dor, e cada instrumento "sofre"a seu modo: o cravo representa a dor de não se encaixar no mundo, e assim a parte da Sula é quse impossível de juntar com a nossa. Mário solta suspiros e gemidos resignados na gamba. A flauta transversal mostra a dor de quem sofre há muito tempo, num cansaço meio desesperado. A dor de cada um se desenvolve em um universo individual, por assim dizer, que só colide com a dor dos outros no final. O efeito é plangente e devastador. Ficamos com medo de a peça ser difícil demais para a maior parte do público. Erro nosso. Curioso é que, até agora, por onde passamos, o público entende claramente a proposta e aplaude entusiasmado! Bem que o Mário (Kossatz, marido da Sula) tinha nos avisado, no ensaio geral: "o pessoal vai gostar muito. A composição é forte e bela!". A peça de Patrícia Michelini, com texto de Baudelaire (L'Eternité) também tem um clima sorumbático, mas é curta e mais melódica.
Pessoal, tenho que me vestir para o próximo concerto. Depois falo mais sobre as peças....
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4 comentários:
Delicioso seu relato da tournée, Laura. Estou lendo e adorando acompanhar tudo pelas suas palavras, :).
Oba!!!! Eu sabia que o público ia gostar!!! rsrsrs... Que bom saber que tá dando certo, que a minha musiquinha funciona. O sofrimento de vocês é parte da música, desculpem....
Beijos!
Laura
Uma delícia sua prosa.
Parabéns pela iniciativa do Re-toques.
E no Rio, quando será?
bj
Vocês virão para Sampa?
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