sábado, 10 de novembro de 2007

Estamos na Gazeta de Cuiabá! Página inteira do caderno VIDA



Novas combinações
A mistura do medieval com o contemporâneo

O show chamado Nova Tímbrica, do grupo Re-toques que acontece hoje no Sesc Arsenal, faz parte do projeto Sonora Brasil

Luiz Fernando Vieira
Da redação

Música é basicamente a combinação de sons e silêncios. Partindo dessa definição, se pode dizer que ela é atemporal, já que basta arranjar as notas da mesma maneira, seja em que época for, e se terá a mesma música. Até certo ponto sim, mas está provado que, dependendo do instrumento e da forma como se toca, ela pode soar bem diferente. É por isso que, para conseguir captar pelo menos em parte a sonoridade exata de uma música medieval, é preciso que ela seja executada em instrumentos do período. Agora, o que acontece se pegarmos canções contemporâneas e as tocarmos em cravos, violas da gamba e flautas? Quem responde é o grupo carioca Re-toques, que se apresenta hoje, às 20 horas, no Sesc Arsenal.

O show, chamado Nova Tímbrica, faz parte do projeto Sonora Brasil, do Sesc, que visa difundir uma parte expressiva da produção musical do país. Como é o trabalho do Re-toques, formado por Laura Rónai, Helder Parente, Sula Kossatz e Mário Orlando. Os músicos criam sonoridades interessantes ao utilizar instrumentos novos e antigos para fazer releituras de peças escritas originalmente para outros instrumentos. Boa parte das obras do programa do espetáculo foi escrita especialmente para essa formação e é apresentada pela primeira vez em turnê pelo Brasil.

O repertório é, certamente, um caso à parte, com composições como "Mundo Pequeno VI", de Marcus Ferrer, cuja letra é um poema de Manoel de Barros. No texto, que está no Livro das Ignorãças (Civilização Brasileira), dois personagens desenvolvem a ação: o "menino" (o próprio autor lembrando de sua infância) e o Padre Ezequiel. Ferrer é violeiro e violonista, mestre em Composição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e suas obras já foram apresentadas na Dinamarca, Inglaterra, França, Portugal e EUA. Atualmente prepara a gravação de seu segundo CD para lançamento em 2008.

A música "Cantares", que foi composta por Ronaldo Miranda em 1969, sobre versos do poeta baiano Walter Mariani, é outro destaque das apresentações do Re-toques. A obra só passou a ser conhecida na década de 80, por iniciativa do Quadro Cervantes, em versão para voz, flauta-doce, cravo e viola-da-gamba. O próprio autor escreveu posteriormente outras versões, entre elas a de voz com piano e a de coro misto a cappella. Trata-se de uma peça singela e concisa, incluindo um refrão de sabor néo-renascentista e estrofes cujo clima melódico-harmônico reflete o caráter da modinha brasileira.

O folclorista petropolitano Guerra Peixe comparece com "Quatro Coisas", obra dedicada ao gaitista Rildo Hora. O compositor, que por influência de Kollreuter utilizou técnicas dodecafônicas em suas composições, se aprofundou no estudo do folclore nordestino quando se mudou para o Recife (PE) e passou a adotar um estilo nacionalista que virou sua marca.

Há ainda "Poemeto Tocatina", de Osvaldo Lacerda; "Solo Quarteto", de Sérgio Roberto de Oliveira; além de composições como "Quarteto", outra de Marcus Ferrer, e "Tembé", de Marcos Nogueira. Esta última é uma peça que representa o encontro de uma sonoridade instrumental tipicamente barroca européia com uma textura inspirada em ícones sonoros da cultura musical dos índios Tembé (oriundos do estado do Pará) e do universo musical dos povos Tupi Guarani, na região amazônica. Dessa interseção surgem possibilidades expressivas inusitadas, que reúnem uma rítmica vigorosa, contornos melódicos singelos e contrastes harmônicos abruptos.

O grupo - São peças importantes cuja grandeza demanda virtuosos e experientes músicos. o que o Re-toques tem de sobra. Laura Rónai (flauta transversal) é formada pela UNIRIO e foi bolsista da Fundação Helena Rubinstein e do governo norte-americano para freqüentar a State University of New York (College at Purchase). Fez mestrado na City University of New York (Hunter College), graças a uma bolsa concedida pelo CNPq, e especializou-se em flauta transversal barroca. Recebeu o prêmio Rosa Riegelman Heintz Scholarship in Music, é crítica de música da revista norte-americana Fanfare e colaboradora das revistas especializadas Goldberg e Flute Talk. Como diretora musical, Laura foi responsável por várias séries musicais, sendo a última Os Quatro Pontos Cardeais, no CCBB de São Paulo. Seu CD com o grupo norte-americano Triomphe de l"Amour foi lançado, em dezembro de 2004.

Helder Parente (voz e flautas) é sociólogo e especialista em Orff Schulwerk, formado pelo Instituto Orff da Universidade Mozarteum, de Salzburgo, Áustria. Ensinou em diversas instituições americanas: Ball State University, University of Southern California, Duquesne University -Pittsburgh. E nos principais cursos e festivais no Brasil. É membro do Quadro Cervantes e do conjunto Fontegara.

A niteroiense Sula Kossatz (cravo) se formou pianista pelo Conservatório Brasileiro de Música e passou ao estudo de cravo sob orientação de Marcelo Fagerlande. Freqüentou master-classes ministradas por Edmundo Hora, pelos franceses Christophe Rousset e Pierre Hantaï, pelo canadense Hank Knox e pela suíça Christine Daxelhofer. Aprimorou-se em Amsterdã, na Academia de Música Antiga e no Conservatório de Haia. Atua como instrumentista convidada do Conjunto de Música Antiga da Uff e da Orquestra Sinfônica Nacional. Com o grupo Tandaradei, apresentou-se em turnês na Ucrânia, França, Suíça e Alemanha. Também excursionou por todo o Brasil com o Terra Brasilis, apresentando repertório colonial brasileiro, e com o grupo vocal Anonimus, especializado em música da Renascença. Em duo - canto e piano - com o cantor Servio Tulio, desenvolveu um trabalho de pesquisa e divulgação do vasto e pouco difundido repertório de cabaré alemão, trazendo ao público nomes pouco conhecidos no Brasil como Friedrich Hollaender, Mischa Spoliansky e Rudolf Nelson.

Mário Orlando (viola da gamba), é mestre em música medieval e renascentista pelo Sarah Lawrence College, NY. Iniciou o estudo da viola da gamba em 1984, com Myrna Herzog, no Rio de Janeiro. Mais tarde estudou com Judith Davidoff (EUA) e ainda com Marianne Müller, no conservatório superior de Música de Lyon, França. Integra vários grupos de música Antiga, entre eles o Música Antiga da UFF, o Quadro Cervantes e o Quadro Antiquo, tendo gravados com estes grupos e com outros vários CDs. Tem excursionado pelo Brasil, em projetos como o Sonora Brasil, com diversos grupos e com freqüência é convidado a lecionar a viola da gamba e danças da renascença em festivais de música antiga pelo país.

Serviço - O projeto Sonora Brasil, com o espetáculo Nova Tímbrica, do grupo Re-toques, será apresentado hoje, às 20 horas, no teatro do Sesc Arsenal. A entrada é franca. (com assessoria)

Um comentário:

Anônimo disse...

ontem estava com muito sono e deixei para ler este post hoje. Nossa, voces são o máximo! Adorei ter recebido todas estas informações e agora sei que voces são "feras" mesmo no que fazem! Quando voces voltarem ao Rio, não quero perder a apresentação que voces provavelmente vão fazer (espero que façam...)