Mario
A origem dos Montenegrinos é principalmente italiana. Agora, a explicação para o ambiente tão propício para as Artes é provavelmente um pouco de tudo o que você citou.
As crianças de Montenegro, desde pequenas, visitam o Museu da Cidade, que não é um museu rico, cheio de obras de arte, tipo Monets e Gauguins, mas sim um local onde está registrado o dia a dia da cidade há algum tempo atrás. Tem um quarto montado,com cama e armários dos anos 30, um piano antigo, rádios velhos, óculos de várias épocas, secadores de cabelo dos anos 50, máquinas de escrever, registradoras desativadas, e por aí vai. Nessas visitas, as crianças aprendem não só que existe uma continuidade entre as gerações, mas também que se deve respeitar o passado, e assim passam a querer preservar o presente.
Nada do que eu vi era resultado de um investimento milionário, mas sim de um esforço conjunto, resultado de um entusiasmo contagiante. E nesse caso, contagiante não é só uma maneira de me expressar. É simples constatação de fato. Tanto a apatia quanto o entusiasmo se propagam em proporções geométricas.
Pois é, a diretora da Estação verteu lágrimas ao se despedir de seus quadros. Mas além disso, ela estava no concerto! Havia professores na platéia, e não só alunos. O diretor da UNIMED que cedeu o auditório, Dr. Dirceu, também estava lá, na primeira fila. E ficou muito claro para todos nós que para a Maura, nos receber, organizar o concerto não era um trabalho chato, mas uma paixão. Na FUNDARTE, fizeram questão de abrir a exposição 10 x10 fora do horário, só para eu poder apreciar as obras. Burocracia, zero.
Em todos os lugares em que entrei - na estação, no SESC, no Hotel, nos restaurantes - o pessoal comentava o Overdoze, acontecido há pouco, com o maior pique. (aliás, fotos deste evento podem ser vistas em: http://picasaweb.google.com.br
Na entrada da UNIMED havia uma exposição de quadros de uma artista uruguaia. O Dr. Dirceu nos explicou que assim podem atingir gente que não freqüenta normalmente as galerias de arte, pessoas que vão lá tirar sangue, ou fazer uma radiografia, e que acabam se sentindo num ambiente menos hospitalar.
O reporter de televisão que nos entrevistou, um jovem simpático com o apropriado sobrenome de Amar, só nos fez perguntas pertinentes e bem pensadas.
É curioso constatar que as cidades que "dão certo" (pelo menos no que tange a cultura) não são necessariamente as mais abastadas, e muito menos as maiores. Sim, Maringá é grandinha. Mas Jacarezinho, Pato Branco, Montenegro, estão bem longe de ser uma metrópole.
Quando existe um clima desses, parece que as coisas vão se encaixando sozinhas. Só não sei por que as outras cidades não são assim. E não sei por onde se começa.
Que barato! Agora, tem de colocar MONTENEGRO em cada bloco, para gravar o nome. Que museu, que capricho. Fico muito curioso mesmo com estas diferenças de cultura e acolhimento. Quais as raízes destas cidades? Os montenegrinos vieram de onde? Algum montenegrino em especial marcou esta comunidade de forma indelével? Será mais a divulgação, dirigida a esse ou aquele segmento da comunidade e o empenho do responsável pelo SESC? Será que o público reflete a "cara" do SESC local? Será que é só acaso? Mas acho difícil, pois entre uma cidade e outra um público de 80 pessoas que ao terminar o concerto sai em bloco e outro que sai para jantar com vocês tem uma diferença tão grande que deve haver alguma explicação.