sábado, 13 de outubro de 2007

O ataque de riso

Na foto, o Marcus Ferrer


Para os que chegaram agora: temos, no nosso programa, uma peça muito bonita e divertida, do Marcus Ferrer. Ele usou um texto ótimo do poeta Manoel de Barros, que contém um dialogo entre Manoel e um certo padre Ezequiel:

"Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas. Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito. Eu pensava que fosse um sujeito escaleno. – Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre disse. Ele fez um limpamento em meus receios. O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas... E riu. Você não é bugre? - ele continuou. Que sim, respondi. Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas – Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os araticuns maduros. Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de agramática."

Lembramos a vocês que tocamos todos os dias o mesmo programa. Então para a coisa não virar rotina, tentamos criar pequenas surpresas uns para os outros. Desvios de rota. Afinal, é nos desvios que estão os ariticuns maduros, não é? Pois no caso de Mundo Pequeno VI, a peça do Marcus, o desvio consiste no seguinte: de vez em quando (só de vez em quando) o Mário, ao invés de dizer “Padre Ezequiel”, inventa um outro nome qualquer, tipo Padre Fritz, ou Padre Giovanni, ou Padre Severino. E aí cabe ao Helder, no espaço de um segundo, reproduzir o sotaque apropriado.

Pois no recital de Florianópolis o diabólico Mário resolveu sacanear o Helder, inventando um padre... Joaquim Bertrand! Sula e eu já estávamos rindo por dentro, pensando em como o Helder iria se sair desta. No breve espaço de um segundo entre a frase do Manoel e a do padre, qual sotaque escolheria? Lisboeta ou parisiense? E não é que o danado do Helder, sem pestanejar, sem nem arquear as sobrancelhas, emenda com um sotaque que misturava em doses perfeitamente equilibradas os trejeitos de um francês de nascença e os do mais castiço lusitano?

Caímos na gargalhada, obviamente. E tivemos que parar o recital, e esperar passar a bobeira. Afinal, cravistas e gambistas podem tocar enquanto riem. Mas vá soprar uma flauta dando gargalhadas de sacudir a pança....

5 comentários:

Cora disse...

Taí o recital que vocês tinham que ter filmado...

Anônimo disse...

imagino, ninguém filma nada??? deve ter sido divertido! Eu bem que queria ver!
Quando tiver um recital por aqui me avisa que vou ver, com o maior prazer!

laura r. disse...

Ah, mas quando os 4 estão tocando, não sobra ninguém para filmar, não é?
Layla, qual a tua cidade?

Anônimo disse...

eu moro no Rio de Janeiro desde 1960 e em 1962 e 63 a minha irmã e eu fomos alunas do seu pai (ele nos deu aulas de frances no Colégio Estadual Souza Aguiar) Tenho até um livro que ele nos presenteou por sermos boas alunas "Antologia do Conto Húngaro" e quando me encontrei com a sua irmã no bosque da Barra onde ela foi conhecer a xará capivara eu levei o livro e mostrei para ela. Temos professores que ficam inesquecíveis na nossa memória e seu pai foi um deles e nesta mesma ocasião também tivemos um professor de geografia que foi inesquecível: o professor David Aarão Reis

laura r. disse...

Ah, Layla, que legal que você foi aluna do papai! Bem, respondendo à sua pergunta: temos um concerto programado no SESC do Rio em Novembro. Prometo avisar quando a data estiver mais próxima, ok? Adoramos os seus comentários...